O nosso corpo é movido a impulsos, a vontades, a quereres. Mas para que esses impulsos possam se manter ao longo do tempo, especialmente durante o ano, é importante que nós aprendamos a descansar também.
Nesse ir e fazer do dia a dia nosso combustível é o cortisol, que é o hormônio do estresse, ou melhor, da capacidade de lidar como estresse. A quantidade desse hormônio fica maior na corrente sanguínea, nos dá força e o corpo se prepara para lidar com o momento estressor a partir de uma série de reações.
O estresse não é do bem nem é do mal. Ele é da vida, é inerente à condição humana e muito necessário. Então, nós trabalhamos, estudamos, fazemos muitas coisas e depois paramos para que o nosso corpo se reorganize e todas as reações químicas de alerta se desfaçam. Durante o relaxamento, todos os tecidos são reparados, a memória é refeita, tudo volta ao lugar. É um período de reparo e preparação para o próximo momento de luta.
Existem pessoas nos dias de hoje que, cronicamente, ficam estimuladas. É a fadiga adrenal crônica. Essa condição gera uma piora do sistema imunológico, um desprazer diante das coisas da vida e uma série de sintomas físicos como dores no corpo sem explicação, problemas cardíacos, sintomas gastrointestinais. Isso porque o corpo entende que está em guerra, em estado de alerta permanente. Por um tempo o corpo suporta, mas depois entra em esgotamento, em estafa.
Os sintomas mais comuns da fadiga adrenal podem incluir:
Cansaço excessivo;
Dor no corpo todo;
Perda de peso sem causa aparente;
Diminuição da pressão arterial;
Vontade por alimentos muito doces ou salgados;
Tonturas frequentes;
Infecções recorrentes, como gripe ou resfriados.
A importância do repouso tem a ver com a reparação. À noite, enquanto dormimos e descansamos, a nossa memória é reorganizada, nós gravamos o que aprendemos durante o dia, fixamos a memória, e os hormônios são produzidos para manter o sistema imunológico e todo nosso metabolismo estável. Assim, é fundamental o sono reparador e o descanso. O período de pausa é um tempo de reorganização interna.
Na natureza acontece isso também. No inverno, por exemplo, quando as plantas parecem morrer e as folhas caem, na verdade elas criam raízes, elas vão pra dentro da terra com mais força buscar nutrientes para formar uma base interna forte. Depois, com a chegada da primavera, as plantas têm estrutura para florescer novamente. É mais ou menos assim com a gente, se pensarmos no processo que o corpo faz. Ele precisa de descanso para formar uma base robusta e se estruturar para os movimentos da vida.
Parece fácil e muito esperado em momentos de férias. Mas não acontece com todo mundo dessa forma. Tenho pacientes que não conseguem tirar férias, que não se permitem parar e acham, muitas vezes, que não merecem descanso. É a cultura do trabalhar, trabalhar, trabalhar… para desacelerar é preciso que haja uma intenção.
Pensando um pouco nas leis da física, especialmente na Lei da Inércia, quando estamos em movimento tendemos a permanecer em movimento. É por isso que algumas pessoas têm dificuldade de relaxar. Quando fazem uma pausa, levam alguns dias (até 15 dias) para conseguirem desligar do trabalho e sair do ritmo da correria. Claro que isso é individual, mas dependendo do momento de vida, às vezes, nem férias de 30 dias são suficientes para a reparação, de tão desorganizado que o corpo se encontra.
Relaxar é tão importante quanto tensionar. Esse movimento de contrair e distender, correr e parar é o movimento do universo, é o balanço da vida. E existe, inclusive, um nome para essa pausa. É o chamado ócio criativo.
No momento do descanso, quando os níveis de cortisol voltam ao normal, é quando temos aqueles insights criativos, os lembretes da vida, as sacadas mais importantes. Isso ocorre porque, no momento da luta, da guerra do dia a dia, a produção de cortisol encontra-se alta e as decisões que são tomadas visam a sobrevivência. As melhores decisões, as melhores inspirações vêm na pausa e isso é uma forma de respeito ao nosso corpo e ao movimento natural da vida.
É preciso aprender a descansar para não adoecer.
Desejo que você se permita momentos de descanso e pausa, reparadores e repletos de amor e luz!
REFERÊNCIAS
Cardoso, T. A., & Chagas, L. D. M. (2019). SAÚDE DO SONO: A IMPORTÂNCIA DO SONO NO DIA A DIA. Caderno De Graduação - Ciências Exatas E Tecnológicas - UNIT - SERGIPE, 5(2), 83.
Martinez, D. (1999). Prática da medicina do sono. São Paulo: BYK.
Morawetz, D. (2003). Insomnia and depression: which comes first? Sleep Research Online, 5 (2), 77-81.
Tufik, S. (2001). O custo social do sono. Ciência Hoje, 170 (29), 6-10.
Souza, J. C., & Guimarães, L. A. M. (1999). Insônia e qualidade de vida. Campo Grande: Editora UCDB.
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